É possível transmitir covid-19 mesmo estando vacinado?
Por Julia Marinho
15/04/2021 - 12:00•3 min de leitura
Fonte: New York Times/Mike Kai Chen/Reprodução
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“Aqueles que foram vacinados não deveriam jogar fora suas máscaras neste momento. Esta pandemia não acabou”, disse o virologista John Moore, da Weill Cornell Medicine de Nova York. A pergunta feita a ele foi se as pessoas já imunizadas podem espalhar o SARS-CoV-2. A resposta: não se sabe.
A polêmica veio à tona depois que a diretora do Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) nos EUA, a médica Rochelle P. Walensky, disse que pessoas que receberam duas doses de vacinas contra a covid-19 “não carregam o vírus” e, por isso, não seriam capazes de infectar ninguém. A afirmação vai contra as recomendações do próprio órgão para o uso contínuo de máscaras e para distanciamento social.
Em São Francisco, Califórnia, uma profissional de saúde prepara uma dose da vacina Pfizer-BioNTech.
“É possível que algumas pessoas que estão totalmente vacinadas possam pegar Covid-19. A evidência não está clara se elas podem espalhar o vírus para outras pessoas. Continuamos avaliando as evidências”, disse logo depois um porta-voz do CDC ao jornal The Times.
Prevenção
A declaração da diretora do CDC, proferida na última quinta-feira (8), veio acompanhada da divulgação de um estudo sobre se as vacinas aprovadas nos EUA são eficazes na prevenção de infecções. O estudo envolveu 3.950 profissionais de saúde na linha de frente do combate ao vírus. Duas semanas depois de serem imunizadas, a grande maioria permaneceu livre do vírus.
O consórcio Pfizer/BioNTech divulgou dados de acompanhamento daqueles que receberam sua vacina gênica: 77 pessoas que receberam a vacina tiveram covid-19, em comparação a 850 pessoas que receberam um placebo.
“Os dados sugerem que é muito mais difícil para as pessoas vacinadas serem infectadas, mas não é impossível. Claramente, algumas pessoas vacinadas são infectadas”, disse o virologista Paul Duprex, diretor do Centro de Pesquisa de Vacinas da Universidade de Pittsburgh.
Propagação
Há chances de quem foi vacinado passar a doença adiante? É isso o que o governo americano quer descobrir e, para isso, está financiando um estudo, a ser conduzido pela Rede de Prevenção COVID-19 (CoVPN), com 12 mil alunos, com idades entre 18 e 26 anos, de 21 campi universitários.
Um voluntário da Universidade do Colorado recebe a primeira dose da vacina.
Os estudantes estão sendo divididos aleatoriamente em dois grupos: a metade será imunizada com a vacina de RNAm da Moderna que, em testes clínicos, mostrou eficácia de 94% na prevenção de covid-19; a outra metade só poderá se vacinar daqui a quatro meses. O estudo será desenvolvido ao longo de cinco meses.
Os dados coletados no estudo com os dois grupos poderão determinar quão bem as vacinas funcionam para deter a propagação do SARS-CoV-2, quais os perigos que as variantes representam e se o vírus continuará circulando, sendo passado adiante por aqueles que se vacinaram, tornando-se disseminadores assintomáticos.
Cargas baixas
O objetivo é determinar a duração da infecção em pessoas vacinadas e não vacinadas, medir a carga viral presente nos voluntários e, ainda, testar ao longo do tempo as pessoas no círculo pessoal dos participantes e as amostras coletadas, em busca de variantes. O resultado poderá determinar se pessoas com infecções assintomáticas, mesmo já vacinadas, podem espalhar covid-19.
Para medir a carga viral entre os voluntários serão coletadas amostras via cotonetes nasais.
Um estudo publicado na revista Nature Medicine em fins de março por pesquisadores israelenses mostrou que pessoas imunizadas no país com a vacina da Pfizer e que contraíram covid-19 tinham cargas virais mais baixas do que pessoas não vacinadas que foram infectadas.
O estudo publicado, porém, foi observacional e não, um ensaio clínico randomizado (padrão-ouro em testes clínicos). A carga viral necessária para a contaminação também pode variar, a depender das cepas hoje em circulação.