Cientistas tentam tratar cegueira por meio da técnica CRISPR
Por Maria Tamanini (via nexperts)
09/03/2020 - 00:00•2 min de leitura
Imagem de Cientistas tentam tratar cegueira através da técnica CRISPR no tecmundo
Um paciente diagnosticado com uma cegueira de origem genética teve seus genes “editados” por meio da técnica CRISPR-Cas9 com o objetivo de reverter o problema. O procedimento ocorreu no Instituto de Olhos Casey da Universidade de Saúde e Ciências de Oregon — em Portland, nos EUA — e será necessário aguardar cerca de 1 mês para os especialistas conseguirem determinar se o tratamento obteve o resultado esperado. No entanto, todos estão bastante otimistas, já que existem planos de testar o método em pelo menos 18 pacientes com o mesmo problema.
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CRISPR
O problema de visão tratado por meio da edição genética é conhecido como Amaurose Congênita de Leber e é causado por uma mutação que impede o organismo de produzir uma proteína que permite os estímulos luminosos chegarem aos olhos e serem convertidos em sinais enviados ao cérebro. Os afetados por essa condição costumam nascer com pouquíssima visão e perder o pouco que têm ainda nos primeiros anos de vida, pois essa disfunção ainda não tem cura.
Durante o tratamento do paciente em questão — sobre o qual não foram divulgadas quaisquer informações, nem a data na qual o procedimento aconteceu —, o indivíduo recebeu anestesia geral e, em seguida, 3 gotinhas de um líquido contendo as ferramentas necessárias à edição genética, isto é, os genes que devem substituir os que sofreram a mutação no interior das células do paciente.
A grande novidade desse procedimento é que, em vez de coletar células do paciente, editá-las em laboratório e reintroduzi-las em seu organismo, tudo foi feito diretamente em seus olhos. Para isso, os especialistas aplicaram os genes necessários à correção do problema próximo às células fotorreceptoras com a ajuda de um tubo da espessura de um fio de cabelo, o qual foi insertado logo abaixo de sua retina. A ideia foi de “recortar” e “deletar” o "pedacinho de DNA" no qual se encontra a mutação, depois “colar” ali os genes certos e torcer para que tudo se conecte e a Amaurose seja corrigida.
De acordo com os especialistas, para restaurar a visão do paciente, será preciso editar entre 1 décimo e 1 terço das células com defeitos e, uma vez concluída, a edição é permanente. O interessante é que, apesar de muitos terem o receio de que a técnica CRISPR-Cas9 pode, potencialmente, alterar genes que não têm nada a ver com o problema tratado originalmente — no caso do procedimento oftalmológico —, o risco de complicações é bastante baixo, e testes apontaram que as ferramentas de edição não "viajam" a outras partes do corpo.
Testes anteriores
Essa não é a primeira vez que as técnicas de edição genética são empregadas diretamente no organismo dos pacientes — sem coletar e corrigir as células em laboratório antes de reintroduzi-las em seus corpos. Há alguns anos, especialistas utilizaram um método chamado Nucleases de Dedo de Zinco (ZFNs) para tentar tratar um problema metabólico (raro e bastante grave) conhecido como Síndrome de Hunter, mas obtiveram pouco sucesso no alívio dos sintomas da doença.
Além disso, você talvez se recorde de ter lido aqui no TecMundo sobre o uso da técnica CRISPR-Cas9 em 3 pacientes com câncer avançado. Nesses 3 casos, os especialistas coletaram células dos doentes e fizeram edições em laboratório para que elas passassem a atacar as células cancerígenas, mas, apesar de o procedimento não prejudicar o quadro, infelizmente não salvou a vida dos pacientes.
Ainda assim, as tentativas certamente vêm servindo aos especialistas como teste de diferentes terapias gênicas e técnicas de edição. A CRISPR-Cas9 é considerada como mais versátil, fácil de pôr em prática e efetiva do que outros métodos; nesse sentido, avançar com o seu desenvolvimento pode levar à descoberta de curas para incontáveis problemas de saúde.