O paradoxo da mente: por que pensamos devagar?
Por Jennifer Mariane Galdino de Queiroga Egues
02/02/2025 - 18:00•4 min de leitura
Fonte: Getty Images
Nesse momento você deve estar questionando o título, dizendo que você é uma pessoa de mente afiada e pensamento rápido, que sempre tem a resposta na ponta da língua quando necessário. Mas sinto em dizer, que em uma taxa relativa, você opera na mesma faixa de pensamento de todo mundo.
Nossa função cerebral é algo bastante extraordinário, formando engramas únicos que correspondem a ações, pensamentos e até sensações para cada uma das atividades ou estímulos que recebemos. Tudo isso é processado e armazenado em todo maquinário cerebral, sendo evocado de forma espontânea ou por demanda.
Porém, você já pode ter percebido que não guarda ou processa, ao menos conscientemente, todos os estímulos visuais, auditivos, gustativos, táteis, interoceptivos ou nociceptivos a cada segundo de existência. Nosso cérebro processa uma quantidade muito pequena e específica de tudo o que recebe.
Mas por que isso acontece? A resposta em si, não temos, mas podemos te dar uma noção sobre a rapidez com que seu cérebro irá processar as informações desse texto. Vem com a gente!
Pensamento na velocidade de um disquete
O estudo publicado na Revista Neuron descreve como a taxa de processamento do nosso cérebro pode ser lento se comparado a capacidade de recepção sensorial das vias neurais ligadas aos nossos sentidos.
Nosso sistema nervoso é inundado com bilhões de dados de informação de todos os tipos, porém, quando nosso cérebro se foca em administrar, selecionar e ‘responder’ a todas essas demandas, ele processa em uma lenta velocidade de lentos 10 bits por segundo!
Para chegar a esse número, os pesquisadores realizaram vários testes, como, por exemplo, a velocidade de resoluções de cubos mágicos, capacidade de memorização rápida, digitação, compreensão e descrição de áudios, dentre outros.
Como nosso cérebro não vem com um contador de processamento de bits, os pesquisadores consideram como bit, a unidade mínima de cada tarefa. Como exemplo mais simples, durante a digitação, eles contabilizaram o número de palavras digitadas por um digitador profissional, chegando ao montante de 120 palavras por minuto.
Eles consideram cada letra como um bit e, contando o número de toques nas teclas, eles chegaram a essa estimativa de tempo. Houve testes com maior ou menor tempo de processamento, porém, a média ficou em torno desse período.
Em atividades específicas, como nos jogos, o fator de processamento de pensamento foi mais complexo, visto os cliques rápidos em controles ou mouses, porém, você não precisa necessariamente pensar em cada clique antes de executá-los, pois você está focado em um macro objetivo.
A comparação entre nosso cérebro e o fator de processamento de dados de um computador não é algo tão justo e confiável, isso é fato, contudo, a comparação se torna interessante ao sabermos da capacidade de recepção e resposta.
São bilhões de neurônios bombardeando reciprocamente em prol de uma organização de pensamento para conferir uma resposta clara e razoável para cada tipo de situação, contudo, existe um gargalo estreito para o que sai.
É como se nosso cérebro fosse um piscina olímpica de informações, com um ralo de tanque de roupas para esvaziá-la. Lento e processual.
Um paradoxo cerebral
Ninguém ainda é capaz de descrever o motivo para nossa função cerebral se organizar e funcionar desse modo. Segundo o grupo, esse nosso jeito lento de pensar poderia estar relacionado à evolução, por exemplo.
Em um mundo ancestral, quem conseguia silenciar e focar em apenas um pensamento ou tarefa por vez, tinha mais chances de obter a caça ou se abrigar, sem perder o foco.
Poderia ainda ser um fator protetivo e funcional, já que sabemos que nossos corpos também possuem limitações estruturais e nos lesionamos com uma certa facilidade.
E por falar em corpos, ao que tudo indica, mesmo que pudéssemos usufruir de tecnologia suficiente para implantes para ‘melhoria’ do nosso processamento e formação de pensamento, ainda estaríamos presos nos 10 bits por segundo, pois os implantes contribuíram apenas para captação de mais informação, o processamento ainda estaria por nossa conta. Não dá para apressar um artista.
Um aviso importante que deve ser levado em consideração: ter um processamento de 10 bits por segundo na formação do pensamento, não significa que usamos apenas 10% do nosso cérebro. Todos nós usamos nossas funções cerebrais em sua totalidade.
Isso não irá ocorrer apenas com pessoas que sofreram lesões cerebrais e perderam partes da estrutura do órgão, ainda assim, neurônios em regiões saudáveis do cérebro irão se reorganizar para dar conta das tarefas. Esse processo é conhecido como neuroplasticidade e ocorre em qualquer tempo de vida, porém, é mais eficiente em crianças e jovens.
Até o momento, existem muitos mitos sobre o cérebro e seu funcionamento, e hoje tentamos quebrar mais alguns. Mas, não fique triste, você ainda pode se considerar uma pessoa de mente ativa e pensamento rápido, são não é tão rápido quanto imaginava ser.
Ainda que seja um paradoxo nosso cérebro ter potencial para ser um computador quântico e decidir trabalhar como um computador de criança, ele não deixa, de ser fantástico, mesmo que haja muito o que compreendermos sobre seu funcionamento e como podemos aprimorá-lo.
Estudos como esse da Caltech contribuem para podermos entender um pouco melhor sobre como funciona ‘o tempo’ do cérebro para processar e organizar as informações. Além disso, reforça que não existe nada capaz de acelerar esse tempo de pensamento.
Todavia, exercícios para manter as funções cerebrais são muito úteis para manter a saúde do nosso pensamento e raciocínio lógico, se você já acha que 10 bits por segundo é muito pouco, não irá querer reduzir ainda mais sua taxa. Coloque a cachola para funcionar!
E pensando nisso, talvez queira saber um pouco mais sobre como seu cérebro se organiza estruturalmente, que tal ler um atlas cerebral? Continue acompanhando a TecMundo e nos conte em nossas redes sociais quais outros papos cabeça você quer ver por aqui! Até mais.
Por Jennifer Mariane Galdino de Queiroga Egues
Especialista em Redator
Estudante da área da saúde e ex-aspirante a Física.