Napalmirinha? Sem querer, influencer ensina a fazer Napalm em casa

Por JORGE MARIN

16/01/2025 - 11:003 min de leitura

Napalmirinha? Sem querer, influencer ensina a fazer Napalm em casa

Fonte: Getty Images

Um vídeo publicado recentemente no TikTok como uma dica caseira está agitando as redes sociais porque, ao divulgar um método para acender fogão a lenha e tapar buraco no telhado, a tiktoker Dany Felix ensinou, sem querer, uma explosiva receita de um dos agentes incendiários mais famosos do mundo, o napalm.

Criado em 1942, na Universidade de Harvard, nos EUA, o napalm é feito de gasolina gelificada pelos composto ácido naftênico e ácido palmítico, cujas inicias compõem o nome da substância. O uso mais conhecido dessa gasolina mortal ocorreu durante a Guerra do Vietnã, pelos seus efeitos devastadores e pela icônica foto da garotinha Kim Phuc fugindo de um brutal ataque norte-americano.

Na segunda-feira (13), um post divulgado no perfil Careca de Ratanabá no X republicou o polêmico vídeo (que foi retirado do TikTok) com o alerta “NÃO FAÇA NAPALM”. Optamos por mostrar o vídeo abaixo, com a explicação científica do que ocorre, e orientar que MANIPULAR OU FABRICAR ESSA MISTURA É PERIGOSO, POIS PODE CAUSAR INCÊNDIOS INCONTROLÁVEIS E REPRESENTAR RISCO À VIDA E AO AMBIENTE!

Uma receita caseira explosiva (PERIGOSA!)

No vídeo original, a influencer fabrica uma "geleka" dissolvendo isopor (poliestireno expandido) na gasolina. Embora ela diga que "a gasolina corrói o isopor", o que ocorre, na verdade, é o que chamamos de "dissolução por semelhança química", devido à similaridade química entre as estruturas moleculares das duas substâncias.

O poliestireno do isopor é um polímero, uma longa cadeia de moléculas chamadas monômeros. Cada monômero do poliestireno é chamado estireno e tem uma estrutura química com anéis benzênicos (átomos de carbono e hidrogênio). Já a gasolina é uma mistura de hidrocarbonetos, com compostos aromáticos também baseados em anéis benzênicos.

Como tanto o poliestireno quanto os compostos aromáticos da gasolina possuem anéis benzênicos, a interação entre as moléculas segue a regra básica da química "semelhante dissolve semelhante". Assim, a gasolina atua como um solvente, quebrando as ligações fracas entre as cadeias do poliestireno, dissolvendo-o e formando um gel viscoso.

Jamais façam esse experimento em casa!

Foto de bombardeio com napalm. (Foto: Getty Images/Reprodução)
Bombardeios com napalm são feitos com bombas recheadas ou com derrame seguido de ignição. (Foto: Getty Images/Reprodução)

Essa interação química explica de que forma o poliestireno (como o do isopor, por exemplo) dissolve na gasolina, formando um material altamente inflamável e pegajoso, bem parecido com o napalm A, a tradicional formulação utilizada na Segunda Guerra Mundial. Quase 80 anos depois, essa propriedade continua perigosa e requer cuidados no manuseio.

Da mesma forma que o napalm tradicional, essa mistura caseira adere às superfícies, queima por mais tempo e dificilmente se extingue com água. Além disso, sua combustão gera vapores altamente tóxicos, como dióxido de carbono, monóxido de carbono e outros compostos perigosos. Finalmente, há grande risco de explosão devido à volatilidade da gasolina.

Esse vídeo é um exemplo claro de um processo químico básico que JAMAIS deve replicado em casa, pois além do risco de incêndio da gasolina, a mistura resultante (a geleka) é extremamente perigosa, podendo causar acidentes gravíssimos. Por mais simples que sejam, experimentos que envolvam combustíveis, devem ser sempre realizados em ambientes laboratoriais e orientados por profissionais qualificados.

Truques e dicas "milagrosos" podem ser perigosos

É importante pesquisar sobre experiências químicas antes de tentar replicá-las. (Fonte: Getty Images/Reproduççao)
É importante pesquisar sobre experiências químicas antes de tentar replicá-las. (Fonte: Getty Images/Reproduççao)

Básicos, úteis e, geralmente, bem intencionados, esses conteúdos são normalmente conhecidos como "life hacks", "dicas caseiras", "truques caseiros" ou "DIY" (faça você mesmo nas iniciais em inglês). Ou, no bom português, "gambiarras", pois geralmente envolvem soluções improvisadas.

Embora a definição "dica caseira" proporcione uma sensação de segurança, pois observamos a pessoa realizando a proeza, algumas dessas práticas podem ter consequências inesperadas ou perigosas, não mostradas nos vídeos. Nesse caso, a própria tiktoker esteve exposta ao risco de explosão e queimaduras graves que, felizmente, não ocorreram.

Nas redes sociais, principalmente no TikTok, Instagram e YouTube, esses conteúdos são publicadas de forma chamativa como "truques que ninguém te conta". A busca por likes e visualizações muitas vezes leva os criadores a compartilhar essas práticas sem a devida verificação de segurança. 

Gostou do alerta? Comente sobre experiências (positivas ou negativas) sobre essas "dicas secretas" em nossas redes sociais, e aproveite para compartilhar com seus amigos. Até mais.


Por JORGE MARIN

Especialista em Redator


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