Peso de materiais fabricados supera o da vida na Terra
Por Reinaldo Alexander Franco Zaruvni
10/12/2020 - 15:30•2 min de leitura
Fonte: Reprodução
Imagem de Peso de materiais humanos supera o da vida na Terra no tecmundo
Se a emissão de gases na atmosfera, responsável pela maior concentração vista por aqui em 800 mil anos, e mudanças climáticas não são suficientes para que muitos se convençam do papel do ser humano na trajetória de nosso planeta, saber que a massa de itens produzidos pela espécie ultrapassou a de todas as criaturas vivas presentes pode, ao menos, dar uma boa pista disso. É o que indica um novo estudo publicado pelo Instituto Weizmann de Ciência, em Israel.
O termo “antropoceno” é usado para descrever o período mais recente da história, em que atividades humanas começaram a ter impacto significativo na Terra. Só para se ter uma ideia, semanalmente, a massa de tudo o que produzimos, como prédios, estradas, carros e afins, equivale ao peso dos 8 bilhões de habitantes espalhados pelos cinco continentes, o que, é claro, afeta o equilíbrio dos biomas.
Ron Milo, biólogo de sistemas, e seus colegas fizeram estimativas da biomassa de plantas vivas (que representam 90% de todos os seres vivos) para cada ano entre 1900 e 2017 com dados que foram baseados em pesquisas de campo e modelagem computacional; a partir de 1990, dados de satélite foram incluídos no levantamento.
Já há menos natureza que materiais produzidos por pessoas no planeta.
A massa de outros organismos, de bactérias a baleias, contabilizada em 2018,juntou-se à de humanos (0,01% do total) e de todos os objetos inanimados, e o resultado, como era de se esperar, é espantoso.
Em 1900, tudo o que era produzido por pessoas somava apenas 3% do total, algo que dobrou a cada 20 anos, de acordo com a equipe em entrevista à Nature. Por fim, a biomassa total diminuiu gradualmente desde 1900 para cerca de 1,1 bilhão de toneladas por causa do desmatamento e de outros motivos. Assim, neste ano, o "artificial" chegou ao pódio da existência.
Humanidade gera, semanalmente, o equivalente ao peso dos 8 bilhões de habitantes da Terra.
Olhando a vida pelos olhos de um cubo de um pneu
Com uma variação de cerca de 6 anos, o momento exato em que isso ocorreu (ou ocorrerá) depende se a biomassa é contada com ou sem água; na segunda hipótese, permanecerá maior que a de materiais humanos até 2037, mais ou menos. De qualquer modo, os pesquisadores afirmam que árvores e arbustos no mundo já pesam menos que nossos produtos. Aliás, o plástico responde pelo dobro do total de todos os animais.
Mais do que preocupante, a informação exige estudos detalhados, já que não leva em consideração a toxicidade de várias substâncias nem o impacto ambiental exercido por estruturas em determinados locais. "Não é que a infraestrutura em si seja ruim. É como a produzimos que é o problema", destaca Eduardo Brondizio, antropólogo ambiental da Universidade de Indiana.
Dependendo da inovação tecnológica aplicada, a possibilidade de evitar que o planeta entre em colapso definitivo não está fora de cogitação, indica Xuemei Bai, que estuda sustentabilidade urbana na Universidade Nacional da Austrália: "Estou esperançoso".