Falha na Microsoft permite usuário adicionar dinheiro na própria conta
Por Felipe Payão
10/03/2021 - 11:09•4 min de leitura
Imagem de Falha na Microsoft permite usuário adicionar dinheiro na própria conta no tecmundo
Um pesquisador de segurança brasileiro descobriu três vulnerabilidades na plataforma Microsoft Store, voltada para a compra de aplicativos e jogos, que permitem desde geração de notas fiscais frias até o aumento fraudulento de dinheiro na própria conta.
O pesquisador Marlon Fabiano, também conhecido pelo nick “Astrounder”, é um ‘velho conhecido’ da comunidade Microsoft. Em agosto de 2020, ele descobriu uma vulnerabilidade na plataforma de assinatura Xbox Live que permitia que qualquer pessoa registrasse as assinaturas do Xboxlive, Gamepass e Gamepass Ultimate gratuitamente.
A Microsoft negou as vulnerabilidades, mas elas foram corrigidas na sequência
A Microsoft foi alertada pelo TecMundo sobre as novas vulnerabilidades e respondeu: “Revisamos os relatórios e as informações que recebemos e não encontramos vulnerabilidades de segurança. Incentivamos o pesquisador a entrar em contato com o Microsoft Security Response Center com informações adicionais para que possamos avaliar quaisquer reclamações e tomar as medidas necessárias”.
O pesquisador entrou em contato com a Microsoft previamente e não foi atendido. Semanas após o contato do TecMundo com a empresa, as vulnerabilidades foram corrigidas e Marlon Fabiano ainda teve sua conta bloqueada, em um movimento completamente desmedido realizado pela equipe responsável da Microsoft.
Microsoft Store
As vulnerabilidades
O primeiro bug permite que um agente malicioso gere Notas Fiscais de jogos do Xbox mesmo que a compra não seja realizada. Essa vulnerabilidade pode ser usada por um golpista para ganhar dinheiro por meio de perdas financeiras da Microsoft.
O Xbox pagará o valor do imposto do jogo vendido e o golpista poderá lucrar até 30%
Em São Paulo, por exemplo, existe o programa “Nota Fiscal Paulista”: o consumidor resgata parte do valor pago em produtos/serviços em imposto. Ou seja, um invasor poderia levantar uma grana por meio desse bug com notas fiscais fraudulentas.
“Como a Microsoft Store gera NFs sem nenhum tipo de controle, é possível tentar realizar a compra de jogos em pré-venda sem pagar por eles e mesmo quando as licenças dos jogos são revogadas por falta de pagamento, o golpista receberá a fatura do jogo como se tivesse realizado a compra”, disse Marlon Fabiano. “E com isso o Xbox pagará o valor do imposto do jogo vendido e o golpista poderá lucrar até 30% do valor do ICMS”.
Parte do processo
Dinheiro infinito
Outra vulnerabilidade encontrada pelo pesquisador permite roubar uma boa grana da Microsoft. Basicamente, o bug consiste em criar uma confusão online com uma suposta compra e, ao notar o problema com o cliente, a Microsoft costuma enviar um “mimo” de R$ 27. A falha permite abusar desse esquema para receber diversos “mimos”.
“Continuando a mesma reprodução do bug anterior: quando recebemos as Notas Fiscais dos jogos comprados, mas não recebemos o jogo comprado, existe uma janela que você poderá jogar os jogos comprados com o bug de 1-3 dias depois do seu lançamento. Depois disso a licença do jogo será revogada e você não poderá jogá-lo mais. Com isso, há um algum processo que faz a validação para identificar se o usuário que recebeu a nota fiscal também recebeu o jogo”, explica o pesquisador.
Um agente malicioso poderia criar várias contas, adicionar dinheiro na carteira dessas contas e revender os jogos
“Caso o usuário, mesmo depois de receber a Nota Fiscal, ainda não tenha recebido o jogo, o valor da compra será estornado para o cartão de crédito cadastrado. Porém como não temos cartão válido para o estorno, não recebemos o valor de volta. Então, para amenizar toda essa confusão com a compra e para agradar seu cliente, a Microsoft envia um “mimo” de R$ 27,00”.
O pesquisador prova que é possível, de maneira “paciente”, executar várias vezes esse processo para receber dinheiro de reembolso. Um agente malicioso poderia criar várias contas, adicionar dinheiro na carteira dessas contas e revender os jogos da loja. “Como existe a opção de comprar o jogo como presente, os jogos poderiam ser enviados a qualquer usuário do Xbox Live”, afirma.
Outro ponto importante é que não existe segregação nas lojas da Microsoft Store e Xbox. Sendo assim, caso seja adicionado um bom valor a conta do usuário, além dos jogos este usuário poderá comprar licenças do Windows, Office 365, mouses, notebooks etc.
Parte do processo
Comprando ouro e pagando bronze
A terceira e última vulnerabilidade segue a mesma lógica das anteriores. Dessa vez, ela permite que um usuário mal intencionado compre jogos e apps na versão Ultimate/Deluxe e pague o valor da versão Standard. Ou seja: seleciona a versão mais cara possível e paga pela mais barata possível.
“Siga os mesmos passos que usamos para gerar as notas fiscais sem pagar pelo jogo. A diferença é que nesse caso devemos escolher a versão mais cara do jogo. Realizando o teste no jogo Watch Dogs Legion no qual a edição Standard custa R$ 279,95 e a edição Ultimate custa R$ 459.95. Compramos o jogo edição Ultimate com um cartão inválido e quando este jogo for lançado teremos a licença revogada. E se tentarmos jogá-lo depois do seu lançamento receberemos a mensagem que o jogo deve ser comprado novamente”, explica Fabiano que continua:
Isso nos dá uma economia e prejuízo para a Microsoft/Ubisoft de R$ 180,00
“O problema é que a Xbox revoga apenas a licença do jogo e não a licença dos conteúdos premium, Season Pass, DLCs, etc. Então nesse caso apesar de não termos mais a licença do jogo base, ainda temos a licença de todo o resto do conteúdo premium. Agora para usufruir do jogo edição Ultimate (valor R$ 459,95), precisamos apenas comprar a versão standard do jogo pagando os R$ 279,95. Isso nos dá uma economia e prejuízo para a Microsoft/Ubisoft de R$ 180,00”.
Este último processo foi entregue com mais detalhes, visto que a Microsoft afirmou que não há vulnerabilidade — e mesmo assim ter corrigido a falha no processo.
Marlon Fabiano agiu como um hacker ético: encontrou a falha, fez um report sem erros para a empresa responsável, e só após meses sem resposta entrou em contato com o TecMundo. De modo diferente de como as empresas vem olhando para a cibersegurança recentemente, a Microsoft negou a falha, corrigiu mesmo assim e ainda baniu a conta de Fabiano. O pesquisador deveria ser recompensado, não acuado.
Parte do processo
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Por Felipe Payão
Felipe Payão é jornalista. Cobre a editoria de cibersegurança com foco em cibercrime há oito anos e possui dois prêmios especializados: ESET América Latina e Comunique-se 2021.