Que fim levou o HoloLens, o headset futurista e imersivo da Microsoft?

Por Nilton Cesar Monastier Kleina

18/01/2025 - 09:004 min de leitura

Que fim levou o HoloLens, o headset futurista e imersivo da Microsoft?

Fonte: Microsoft/Reprodução

Após outras tentativas, a indústria vive atualmente uma nova onda de empolgação com a realidade mista. De sigla MR (mixed reality) ou XR (eXtended reality), variando de acordo com as fabricantes, essa tecnologia mistura elementos virtuais no mundo real com momentos de imersão total e ainda é pouco acessível em preço, mas ainda demonstra potencial.

Além de headsets como o Apple Vision Pro, que não empolgou o mercado, modelos como o Meta Quest e o PlayStation VR2 trazem novos ares para essa experiência imersiva de navegação, comunicação ou jogos. Há ainda uma futura tentativa da Google e óculos inteligentes mais simples, como os Ray-Ban da Meta.

Antes deles, entretanto, a Microsoft fez parte desse mercado com um produto considerado promissor em vários setores, da indústria ao entretenimento. O HoloLens foi um dos projetos mais ousados da dona do Windows, mas a cada ano parecia ficar cada vez mais discreto até hoje mal ser lembrado mesmo pelos grandes fãs da marca.

Uma nova realidade para a Microsoft

O ano de 2016 foi visto pela indústria como um possível ponto de virada para a Realidade Virtual (VR) e a Realidade (Aumentada), com o lançamento de novos headsets e a disponibilização de conteúdos com suporte a esses formatos. O Oculus Rift, que começou essa nova onda, com o HTC Vive e o primeiro PlayStation VR também encabeçando essa empolgação.

Só que havia outro produto em desenvolvimento ainda mais ousado e promissor: o HoloLens da Microsoft, internamente chamado de Project Baraboo. Planejado ao menos desde 2012, ele tinha como líder de projeto Alex Kipman, brasileiro veterano da Microsoft que supervisionou também a criação da plataforma de controle por movimento do Xbox, o Kinect.

A primeira geração do headset, revelada em 2015. (Imagem: Microsoft/Reprodução)
A primeira geração do headset, revelada em 2015. (Imagem: Microsoft/Reprodução)

A revelação do HoloLens aconteceu um ano antes, em abril de 2015, durante a conferência Microsoft Build. No palco, mostrando o produto de surpresa e sem qualquer vazamento prévio, ele roubou a cena ao exibir um headset imersivo cheio de aplicações possíveis e com um uso aparentemente bastante intuitivo.

A ideia do dispositivo de realidade mista era projetar nos visores na altura dos olhos do usuário elementos virtuais interativos — como blocos de Minecraft, um esqueleto humano em dimensões reais ou versões tamanho família de peças minúsculas de um automóvel.

Meses depois, a Microsoft fez demonstrações controladas do HoloLens ainda em fase de protótipo e os relatos eram os mais positivos possíveis. O dispositivo foi testado por arquitetos, estudantes, programadores e elogiado amplamente por todos, o que só aumentou a expectativa sobre o produto.

O HoloLens encara o mercado

Passada a empolgação, em março de 2016 o HoloLens foi oficialmente disponibilizado, ainda que de forma limitada. A edição de desenvolvedores, lançada antes para ser possível criar apps e experiências para o produto, entrou em pré-venda por US$ 3 mil (aproximadamente R$ 11 mil na conversão da época).

A própria Microsoft confirmou que, inicialmente, o público do HoloLens seria o empresarial — ao contrário dos demais headsets da época, voltados o consumidor padrão. Ainda assim, ela parecia apostar alto no sucesso da empreitada

O HoloLens foi vendido mais de um ano depois da revelação. (Imagem: GettyImages)
O HoloLens foi vendido mais de um ano depois da revelação. (Imagem: GettyImages)

A primeira geração do HoloLens rodava a partir do chip Intel Atom x5-Z8100 e uma unidade de processamento própria da Microsoft, trazendo uma tela de 2,3 MP de resolução. Ele era composto por quatro sensores e uma câmera de profundidade para captar imagens do ambiente e permitir a inclusão de elementos virtuais na tela.

O headset é colocado junto com uma faixa na nuca, com tamanho ajustável para deixá-lo fixo na cabeça. Nas laterais, alto-falantes com som espacial ajudam na imersão a partir do áudio. Já a bateria durava ao máximo três horas de uso, mas era possível usar o aparelho com cabos. O sistema operacional era o Windows 10, porém em uma versão modificada chamada de Windows Mixed Reality.

Ainda em 2016, a Microsoft expande pré-venda para mais países. Já no ano seguinte sai a versão comercial, que passa a custar US$ 5 mil. Nesse período, o dispositivo é criticado por limitações técnicas de hardware que não eram aparentes nas demonstrações.

O HoloLens adaptado para uso em combate. (Imagem: Microsoft/Divulgação)
O HoloLens adaptado para uso em combate. (Imagem: Microsoft/Divulgação)

Outra crítica surgiu em 2018, quando a Microsoft assinou um contrato com o exército dos Estados Unidos para fornecer os headsets para soldados, que usariam o display para missões de combate e treinamento. Até mesmo funcionários se manifestaram contra o acordo para fins militares em uma carta, mas ele foi oficializado.

A segunda e última geração

Para resolver ao menos as questões envolvendo o hardware, a Microsoft revelou em fevereiro de 2019 o HoloLens 2. A segunda geração era bem mais poderosa, mais confortável para longas sessões de uso e prometia uma imersão ainda maior.

O headset trouxe maior campo de visão, controles intuitivos nos botões físicos do headset, lentes de resolução 2K e câmeras melhores. 

O dispositivo foi vendido oficialmente por US$ 3,5 mil (R$ 14,3 mil em conversão direta da época) a partir de novembro, mas chegava a custar até R$ 50 mil no Brasil. Nesse período, porém, a onda de 2016 envolvendo essa tecnologia já tinha ficado para trás e ele foi disponibilizado em quantidades limitadas.

Com o passar dos anos, a própria Microsoft parece ter dedicado cada vez menos espaço ao projeto. Alex Kipman deixou a empresa em 2022 após acusações de comportamento inadequado, parte da equipe foi cortada no ano seguinte em layoffs e outros produtos foram colocados como prioridade, como a divisão Xbox e a inteligência artificial Copilot.

O fim da linha do HoloLens foi decretado em outubro de 2024, quando a Microsoft comunicou o encerramento da produção da segunda geração e não ter planos para lançar um substituto. O suporte oficial vai até 2027 e as vendas seguiram até o fim do estoque.

O HoloLens deu errado?

O HoloLens não foi um fenômeno comercial e muito menos cumpriu toda a revolução prometida pela Microsoft. Em um nicho pontual, ele foi usado com sucesso em cirurgias ao redor do mundo, inclusive no Brasil e também para fins educativos em áreas como engenharias e na saúde. 

Além disso, indústrias e profissionais de design chegaram a encontrar formas de aproveitar a Realidade Aumentada no ambiente de trabalho. O headset segue também como um equipamento militar, por mais controverso que seja o uso dele nesse meio.

O HoloLens foi adotado em algumas indústrias ao redor do mundo. (Imagem: Microsoft/Divulgação)
O HoloLens foi adotado em algumas indústrias ao redor do mundo. (Imagem: Microsoft/Divulgação)

Apesar de hoje ser considerado um projeto encerrado, o HoloLens ajudou a posicionar headsets de realidade mista como uma tecnologia educacional e empresarial. Na próxima onda dessa indústria, que parece estar próxima, esse legado deve ser levado em conta pelas concorrentes que ainda lutam pelo setor.


Por Nilton Cesar Monastier Kleina

Especialista em Analista

Jornalista especializado em tecnologia, doutor em Comunicação (UFPR), pesquisador, roteirista e apresentador.


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