Gato de Botas 2 acerta ao falar com os grandes e os pequenos (crítica)

Por Maura Martins

13/02/2023 - 12:004 min de leitura

Gato de Botas 2 acerta ao falar com os grandes e os pequenos (crítica)

Fonte:  DreamWorks 

Imagem de Gato de Botas 2 acerta ao falar com os grandes e os pequenos (crítica) no tecmundo

Indicado ao Oscar de Melhor Animação em Longa-Metragem, Gato de Botas 2: O Último Pedido tem uma característica que define bem os melhores filmes infantis: eles são os que conseguem ser divertidos tanto para os pequenos quanto para os seus pais. 

O universo criado em torno do carismático Gato de Botas – que é um spin-off bem-sucedido da franquia Shrek – é encantador, engraçado e, mesmo com alguma estereotipação, agrada com sua representação da cultura latina.

O Gato de Botas (dublado pelo galã Antonio Banderas no original, e pelo veterano Alexandre Moreno no Brasil) é um herói meio torto. Ele é valente e, mesmo sendo pequenino, é capaz de derrotar inimigos mais poderosos. Por outro lado, sua astúcia o tornou arrogante e cheio de si. Seu charme, de alguma forma, é também a sua fragilidade.

Mas acontece que ele não é eterno. Gato de Botas 2, que é uma produção da DreamWorks, começa quando o famoso Gato se dá conta que, por causa de suas peripécias e sua falta de prudência, chegou à sua nona vida (na cultura americana, os felinos têm nove e não sete vidas). Por isso, ele está vivendo a última: se morrer em um novo conflito, já era. 

O Gato de Botas descobre isso por conta de uma visita sombria de um lobo mau que, na verdade, é a própria Morte (e que é dublado no filme original por Wagner Moura!). Arrasado, Gato de Botas resolve largar sua vida de aventuras e ir se isolar num “refúgio” para gatos, onde uma mulher acumuladora empilha centenas de felinos e os trata como se fossem bebês. 

As cenas neste local são simplesmente hilárias: nosso herói tem que de alguma forma baixar a bola e fingir ser um bichano dócil para conseguir se adaptar ao que restou, por mais humilhante que isso seja.

É neste contexto que ele conhece um chihuahua órfão que está se passando por gato para conseguir sobreviver. O personagem Perrito traz o contraponto perfeito à bravura um tanto seca do Gato e proporciona alguns dos melhores momentos desta sequência.

Mas há esperança para o herói. Para isso, ele vai ter que partir em busca da Estrela dos Desejos, a única que será capaz de restaurar as suas nove vidas.

O valor da vida

Começa então a nova aventura do Gato de Botas, em que os demais personagens se cruzam, incluindo aqui os inimigos. Entre eles, está a família Urso, que adotou a órfã Cachinhos Dourados, e assim acabou adquirindo uma configuração de uma gangue: todos vivem de aterrorizar os outros e conseguir vantagens com o uso da violência.

A frágil Cachinhos, como vemos, está agora empoderada, só que no mau sentido. Ela acaba usando sua família adotiva para também ir atrás da Estrela, em busca de concretizar o seu maior desejo: o de reencontrar sua família humana.

O outro inimigo do Gato de Botas é um homenzarrão infantil chamado de Joãozão Trombeta. Ele é muito rico e ambicioso, ainda que tenha uma mentalidade simples de criança. Dono de uma fábrica de tortas, Joãozão tem como hobby colecionar itens mágicos saídos de contos de fadas, e fará qualquer coisa para também alcançar a Estrela dos Desejos. Para isso, ele não se importa em destruir qualquer um que passar no seu caminho - mesmo que sejam os padeiros de sua confeitaria.

Há aqui um aspecto muito interessante da franquia de Gato de Botas: ela presta homenagem a muitos clássicos das histórias infantis, o que com certeza vai agradar a nostalgia dos mais velhos. Joãozão Trombeta, por exemplo, é aconselhado pelo Grilo Falante (do conto do Pinóquio), ainda que nunca escute suas recomendações.

No meio dessa jornada, Gato de Botas e Perrito se unem a uma última personagem importante. Kitty Pata-Mansa é, ao mesmo tempo, uma inimiga e um contraponto amoroso ao herói. Claramente, é a sua versão feminina e, portanto, sua alma gêmea - embora o arrogante Gato não pareça dar muita bola para o romance.

O mote central de Gato de Botas 2: O Último Pedido se torna então a disputa pela Estrela dos Desejos e pelo que ela representa para cada um dos eixos envolvidos em sua procura. O principal deles é, sem dúvida, o questionamento em torno do própria protagonista: vale a pena lutar para viver mais? Uma vida mais longa é, necessariamente, uma vida boa?

Questões complexas em um filme divertido

(Fonte: AdoroCinema)(Fonte: AdoroCinema)

Não pense que Gato de Botas 2: O Último Pedido se torna um filme enfadonho ou difícil para as crianças por encarar questões que, de alguma forma, têm fundo filosófico. Estamos diante de uma obra acessível e divertida, ainda que um tanto assustadora. Vale lembrar que crianças muito pequenas podem ficar meio apavoradas com as aparições do lobo ceifador.

O filme consegue equilibrar estes momentos densos com uma trama engraçada, com vários momentos capazes de ficar na memória. A grande estrela (com perdão do trocadilho) está no amável personagem do cachorro Perrito. Tal como o Burro de Shrek, ou a Dory em Procurando Nemo, ele opera como o ponto de alívio da trama que, mesmo sendo leve, carrega mensagens importantes para os pequenos.

(Fonte: DreamWorks)(Fonte: DreamWorks)

Abandonado pelos pais e pelos irmãos, o chihuahua vai parar no abrigo lamentável dos gatos, onde se disfarça e passa a acreditar que tirou a sorte grande. Sem nada de muito bom em sua vida, ele sugere a possibilidade de um olhar positivo sobre todas as coisas, tal como uma Pollyana atualizada para as novas gerações.

Soma-se a isso o fato de que Perrito, o Gato e Kitty Pata-Mansa se envolvem em cenas tão hilárias quanto bobas, como aquelas em que Kitty tenta ensinar ao cachorrinho como simular um olhar doce dos gatos, o que é capaz de derreter os corações mais duros. Mais do que afeto, trata-se de um recurso de sobrevivência empregado pelos mais vulneráveis para sair de situações difíceis.

Gato de Botas 2: O Último Pedido pode não ser a mais arrojada das animações infantis. Mas é justamente este ar retrô, somado à trama envolvente, que faz com que este seja, sem dúvida, um dos mais interessantes filmes infantis lançados nos últimos anos.


Por Maura Martins

Especialista em Especialista

Jornalista. Doutora em Ciências da Comunicação e editora do portal de jornalismo cultural Escotilha.


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Fontes

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